A noite

A noite

sábado, 26 de dezembro de 2015

A arte de ir embora quando se quer ficar



É estranho como, as vezes, mesmo contra nossa vontade temos que partir. Seja de um lugar, seja de uma situação, seja de dentro de alguém... percebi então, de quantas coisas, lugares e situações eu tive que ir embora mesmo sem querer. 
Seja porque era hora, seja porque existia um motivo relevante ou mesmo não tendo motivo algum aparente. É quando se tem a sensação de que é hora e não da mais pra ficar ali, mesmo querendo. É quando a gente quer ficar mas o cansaço nos impulsiona a seguir novos rumos e alçar novos voos. Só quem ja passou por situações semelhantes sabe do que estou falando: a arte de ir embora quando se quer ficar, de abrir mão quando se quer muito ainda, de deixar pra lá quando insiste em estar bem aqui. E quando eu digo arte é bem no sentido literal da palavra mesmo. 
Porque nem sempre as pessoas entendem quando você se vai. Alias, elas quase nunca entendem.... Não é qualquer um que é artista. E por isso, fica difícil explicar. 
É difícil fazer as pessoas entenderem que nem sempre quando se quer é a hora certa. É difícil elas entenderem que a gente tira o time de campo mas o pensamento ainda joga o tempo todo. E que, lidar com essa ambiguidade é também muito difícil. 
É difícil pra elas entenderem que a gente segue a vida porque a vida também sempre segue , mesmo que a gente não queira. 
E assim aconteceu comigo, aconteceu com você... Eu tive que seguir. Fui embora querendo ficar. Olhei tantas vezes pra trás. Pensei em voltar outras tantas, mas continuei andando. Sai sem rumo, sem saber onde queria chegar. Só sabia que não dava mais pra voltar. A gente sempre sabe. Eu sabia que não dava, você também sabia. Sempre soube. 
Fui embora. Andei muito. E percebi nessas andanças que você me fez falta. Não que eu quisesse voltar... Até porque fazer o caminho de volta seria cansativo, pois eu olho pra trás e já não consigo achar você. Hoje vejo que andei muito, até mais do que deveria. Perdi a noção do tempo e agora estou longe... 
Eu só queria mesmo que você pudesse ver através dos meus olhos tudo aquilo que vi desde aquele dia até hoje, queria te contar minhas histórias, falar dos lugares lindos que conheci, dos por-do-sol em que eu sentei pra ver e pensei em você e em como seria bom se estivesse ali comigo. 
Falar que o mundo nem é tão mundo assim como eu pensava ser.   Contar que conheci muita gente e que na maioria das vezes eu não andei sozinha. Mas, que ninguém se comparou a você ainda. 
Mas isso pouco importa. Eu só vim mesmo aqui pra te dizer que eu não queria ter ido, mas fui. Pra te fazer entender que eu teria escolhido ficar se você tivesse me dado essa opção. Pra te contar que eu só fui porque você me permitiu ir embora. A gente sempre vai embora não é? 
Você abriu a porta e eu não questionei, eu simplesmente fui. Ainda não parei. Penso que ainda nos veremos pelo caminho, afinal o mundo é redondo e nem é tão grande assim. 
Então, uma hora ou outra a gente se encontra e se reconhece. E aí, quem sabe, te convido pra ver o por-do-sol e poderei te contar do meu caminho e dos meus silêncios. São muitos, espero que ouças. 


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Por favor, saia.



Tudo bem, eu te entreguei meu coração. Abri as portas dele como quem abre um castelo. Enorme, mas todo pra você. Com algumas imperfeições sim, mas sabe-se la que nem tudo é perfeito. Assim como meu coração, eu também não sou. E não adiantar se engrandecer porque você também não é, sinto muito em te contar isso. Já que ninguém nunca ousou te dizer, eu mesmo falo. Você já deve ter se acostumado com a minha sinceridade, que também é um dos meus defeitos. 
Cara você tem defeitos pra caramba.... E ainda assim eu te quis. É meio estranho acreditar nisso. As pessoas me perguntam sempre: menina o que você viu nele? Porque você insistiu tanto? Qual a vantagem disso tudo? Ta doida em querer reviver tudo aquilo é? E sabe, hoje não sei responder a essas perguntas mais. Nenhuma resposta me vem à mente agora. As vezes eu acho que insisti por puro masoquismo mesmo. 
Se me fosse feita essas perguntas há uns meses atras, eu teria muitas justificativas. E eu acreditava fielmente em todas elas.
Eu poderia dizer que eu precisava tentar mais uma vez por achar q nossa historia não tinha terminado. Eu poderia dizer que estava ali ainda por acreditar que existia sentimento, de ambos os lados. Eu poderia dizer que eu precisava tentar mais uma vez. 
Eu poderia dizer que eu precisava ir até o fim, mesmo sabendo que o fim já tinha sido há muito tempo. Eu poderia dizer que mesmo com todos os defeitos, era você meu ultimo pensamento antes de dormir e o primeiro ao acordar. Eu poderia dizer que é porque eu tentei desviar você do meu caminho, mas o meu caminho não desviava nunca de você. 
Eu poderia dizer que é porque quando a gente ama, os defeitos a gente geralmente esquece e as coisas boas vivem perseguindo a gente feito assombração. Eu poderia dizer que é por causa dos seus olhos, do brilho deles que eu nunca vi em mais ninguém (acho que isso as pessoas que te conhecem entenderiam). 
Eu poderia dizer que você tem um coração enorme capaz de amar muito, mas acho que isso elas não acreditariam, então deixa pra lá. Eu poderia dizer que apesar dos pesares, a gente era feliz e isso bastava pra se tentar de novo. 
Eu poderia dizer que eu iria em frente enquanto meu coração pedisse pra eu ir, independente de motivos. O coração nunca tem motivos, ele simplesmente quer e ponto. Eu poderia dizer que ainda via você como o pai dos meus filhos, mesmo tendo convivido com outras pessoas tão diferentes de você. Eu poderia dizer que é porque todas as outras pessoas passaram, mas você permaneceu. 
Eu poderia dizer que era pelo que eu senti quando abracei você de novo depois de tanto tempo. Era como voltar pra casa depois de muito tempo perdida por aí.
Eu poderia dizer que era pelo que eu sei que você sentiu nos dias em que estivemos juntos novamente. Eu poderia dizer que é porque há coisas que o tempo não apaga e a distância não diminui, só aumenta. 
Eu poderia dizer que algo me mostrava que era você e que a gente precisava desse tempo longe pra ter certeza disso. 
Eu poderia dizer que era porque nossa loucura combinava ou porque apesar dos pesares não desistíamos nunca da gente. Eu poderia dizer que era porque eu acordei de repente e vi que não queria perder você, mesmo ja tendo perdido. Eu poderia dizer que eu simplesmente não poderia deixar você ir, mesmo ja tendo ido. Eu poderia dizer que ainda me culpava por ter seguido em frente quando deveria ter voltado, mais uma vez. Insistido mais uma vez. 
Eu poderia dizer que é porque, de alguma forma, eu sabia que valeria a pena, se não fosse pela nossa historia, que fosse pelo aprendizado. Que fosse pra seguir em frente de cabeça leve e coração tranquilo. Como eu estou agora.
Eu poderia, enfim, ter dito tanta coisa. Mas as pessoas não entenderiam, elas nunca entendem. Então eu não dizia nada nunca. Os motivos eram meus e isso bastava.
É que elas não entendem essa sua forma estranha de lidar com sentimentos. Elas insistem em afirmar que é covardia, mas eu bato o pé dizendo que não. 
É que elas não sabem que você faz isso pra se proteger. Elas não sabem que você não se joga com medo do tombo. Sei como é. É estranho, mas eu sei. 
Você é só um menino que cresceu de tamanho. Um menino que mostra uma mão, mas esconde a outra. Aquela que guarda as coisas mais bonitas, as que você mais gosta. Vai que você mostra e alguém leva de você, não é? E aí, é como tirar doce de criança. É choro na certa. Então você esconde. Guarda como um tesouro, como se ninguém o merecesse. 
Mas por razões suas, eu mereci um dia. Você me apresentou todas essas coisas lindas escondidas aí. Mas sem querer, eu tentei levar tudo embora. Por muito tempo pensei ter levado e ter deixado você órfão dessas coisas lindas. Mas hoje eu sei que não levei. E isso me deixa feliz. Elas estão aí ainda. Só estão escondidas, mas não cabe a mim procurá-las mais. 
E, depois de todo esse tempo e apesar de tudo, da mesma forma que eu abri meu coração pra você entrar, ele está aberto pra você sair. Você não é bem vindo aqui. Não mais. 
Então, por favor, dê licença. Não insista em morar em um lugar onde você não é mais o convidado de honra. Aqui só tem lugar pra quem não tem medo de ficar, não é pra qualquer um. Aqui só cabe quem se joga de cabeça, sem medo do tombo. Só cabe quem é bem resolvido, que chega com as malas prontas e a escova de dentes na mão. Que sabe deixar pra lá o que precisar ser deixado e tenha coragem suficiente pra assumir o que quer. Que seja mais certezas do que dúvidas e que saiba dar valor ao que realmente importa.
Então, por favor, saia. E quando sair não se esqueça de fechar a porta, apagar a luz e jogar a chave fora.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Sobre o tempo, memórias e saudades


É estranho como tudo na vida tem começo meio e fim. Estranho porque é tão bom começar, mas tão difícil findar uma etapa. O fim é sempre uma espécie de morte... Porque tudo que finda, morre de alguma forma e tudo que começa invariavelmente acabará um dia. 
É triste porque da saudade e não da simplesmente pra voltar atras e refazer tudo. Não existe um botão onde apertamos pra voltar e recolocar tudo no lugar ou simplesmente reviver alguns momentos. Se pudesse voltar, penso que faria quase tudo do mesmo jeito. Só tentaria ser um pouco melhor, aproveitaria mais as coisas simples e as pessoas realmente importantes. Não perderia tempo com coisas que podemos deixar pra lá, simplesmente. Resgataria algumas pessoas e deixaria outras tantas pelo caminho.
Mas como tudo tem dois lados, não é de todo triste. Tudo aquilo que a memória ama, fica eterno. E sendo assim, sempre que quisermos podemos buscar la dentro os melhores momentos e revive-los através das lembranças. 
Revivemos momentos quando vemos alguma foto, quando ouvimos um som ou sentimos um cheiro. É instantâneo e involuntário. A nossa alma carrega memórias, e estas nos levam em segundos de volta pra determinado lugar, com determinadas pessoas. Porque somente nossa memória sabe qual a saudade que incomoda e qual momento nos cura. E então, ela nos leva pra lá. 
Porque 'saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar', já dizia Rubem Alves. Penso que sim... Nossa alma ultrapassa o tempo, rompe barreiras. 
Se olhar pra trás e não der saudade, é porque o que fizemos não tem sentido. A saudade é o que fica daquilo que partiu, daquilo que não pode ficar. Só se tem saudade daquilo que amou. Só existe saudade se valeu a pena. 
E putz, tem coisas que realmente não valeram  a pena, mas a galinha inteira. E é sobre essas coisas que escrevo aqui. Coisas que não são coisas. Nunca foram e nunca serão. Sao pessoas, são momentos, são lugares....  
É a prova viva de que o mais importante não se compra. Certos momentos não tem preço, certas pessoas são impagáveis. Valem mais do que qualquer dinheiro do mundo. 
Podemos comprar quase tudo, mas não podemos comprar o tempo que já foi, nem momentos já vividos, nem pessoas importantes que de alguma forma, já partiram. 
Ja me falaram que quando a gente esta pra morrer, no ultimo minuto passa pela nossa mente todas as pessoas que amamos. Acho que na verdade passa todos os momentos que amamos viver com aquelas pessoas. Pra que de alguma forma a estejamos perto, mais uma vez. Dando o ultimo abraço que ficou pra trás, vendo o ultimo sorriso mais lindo do mundo, vendo a neve novamente com alguém num dia frio em em lugar distante, bebendo cerveja com pessoas especiais na beira do mar, beijando a testa de alguém que não se vê tem tempo,.... 
Porque é disso que a vida é feita. De momentos, de lembranças e saudades. 
Porque certas coisas o tempo não apaga nunca. Ele anestesia, faz a gente pensar que esqueceu. Mas basta um cheiro sequer pra nos provar que está tudo ali dentro. Basta a saudade pra nossa alma nos lembrar pra onde quer voltar e nos dar a certeza de que fizemos a coisa certa.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Carta pra quando você chegar


Pode entrar na minha vida moço, você é bem-vindo aqui, só não repara a bagunça. É que algumas pessoas já passaram por aqui também e eu ainda não fui capaz de arrumar e colocar cada coisa no seu lugar. Na verdade ordem nunca foi uma palavra muito adequada pra mim. Gosto mesmo da bagunça. Ela me faz lembrar que existe vida aqui dentro e nao me deixa esquecer de cada um dos que se despediram.
Pode chegar sem medo, eu sempre terei um tempo pra você moço. Só não tente me prender, porque eu nasci pra voar e todos que tentaram, me viram fugindo da gaiola. É que eu prefiro a liberdade sozinha do que a prisão acompanhada. Me deixe livre e eu estarei com você sempre.
Sou meio difícil de conviver moço, mas logo você acostuma e aprende a melhor forma de lidar comigo. Se aguentar o meu pior, terá o meu melhor.
Mas se for vim, venha por completo. É que eu odeio meio termos sabe? Não aprendi ainda a amar pela metade. Alias, intensidade deveria ser meu nome, é bom saber disso também. 
Sou um bocado orgulhosa moço, mas com você aqui prometo rever isso.
Venha sem pressa, quero conhecer sua bagunça também. Mas não me peça pra esquecer meu passado, porque ele jamais será esquecido moço. É que não dá pra apagar lembranças boas não é mesmo?!
Não tenho muito pra oferecer, mas o que eu tenho será seu. Tenho algumas histórias bonitas, uma casinha no campo pra ver o sol e uma vida inteira pela frente. 
Eu espero que você tenha um sorriso lindo, desses que sorri com os olhos e nos faz esquecer todo o resto do mundo. Espero que você tenha bom humor de sobra pra me fazer rir nos dias difíceis.
Espero que você tenha defeitos que eu seja capaz de suportar e qualidades que superam todos eles. Que você tenha um coração já calejado assim como o meu, porque corações assim são mais nobres e bem mais bonitos. 
Que você aceite que não vai tomar o lugar de ninguém aqui. Cada um tem seu espaço e o que ja esta ocupado não ficará vago nunca. Meu coração é grande, cabe muita gente.
Espero que você entenda o meu louco amor pelos meus amigos moço. Eles são as pessoas que me colocam de pé sempre que caio e me carregam no colo quando o cansaço não me deixa levantar. Não me faça escolher entre eles ou você porque não sei viver sem eles.
Que você suporte minhas crises, minhas loucuras e meus cansaços e que tenha o abraço mais aconchegante que eu já ganhei. 
As vezes eu machuco as pessoas que amo mesmo sem querer e é bom que saiba disso moço pra poder me perdoar. Sou meio inconstante e quase sempre mete os pés pelas mãos... Sigo quando deveria voltar, falo quando deveria calar e calo quando deveria falar. É bom que saiba disso também.
Espero que você goste de crianças e queira mudar o mundo. O meu pelo menos.  Que você goste de coisas simples e ame o por do sol. 
Prometo não tentar mudar você moço, já tentei isso outras vezes e não deu certo. Hoje eu sei que ninguém muda, por isso não queira me mudar também. 
Que você aguente minhas loucuras e entenda que as vezes gosto de ficar sozinha. Isso não quer dizer que não goste da sua companhia, só quer dizer que quero ficar sozinha, mesmo. 
Espero que consiga me decifrar moço. Que entenda o meu silêncio que diz muito e os meus gritos que não dizem quase nada. 
Pode vim moço, eu não mandar você embora da minha vida. Mas se eu mandar, por favor não vá. É da boca pra fora e eu vou sofrer depois. 
Espero que você insista em mim. Por favor, insista. Principalmente quando eu pensar em desistir. 
Espero que você seja inteligente, justo e cavalheiro e que seja capaz de despertar o melhor que há em mim. 
Espero que tenha os olhos mais lindos que eu já vi. 
Que você venha quando eu menos esperar e que quando chegar eu te reconheça moço, e não queira ser de mais ninguém.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Amadurecência



De uns tempos pra ca pude perceber como as coisas mudam com o tempo. Como os conceitos mudam com o nosso amadurecimento e como nos tornamos exigentes com a gente e com os outros. 
Passamos a ser seletivos. A ouvir somente o necessário e nos desligarmos de tudo aquilo que não nos acrescenta. Aprendemos a valorizar o silêncio, quando, no momento, responder simplesmente não vale a pena. Não vale o esforço e nem a dor de cabeça. Aprendemos a respeitar as escolhas das pessoas, mesmo que sejam diferentes das nossas. Passamos a aceitar que pessoas mudam ou na verdade nunca foram realmente quem pensamos que eram. Todo mundo se engana um dia, não é?! 
Aprendemos a deixar ir tudo aquilo que não quer ou não pode ficar. Aprendemos a abrir mão de tudo aquilo que por um motivo ou outro não nos faz bem, ou não condiz com nossos ideais e planos.
Passamos a ser mais flexíveis porque a vida já nos deu provas suficientes de que quem não se curva uma hora quebra. 
Aprendemos a ser práticos, até demais. A tomar decisões e saber realmente o que queremos. Aprendemos a ir atrás, a insistirmos enquanto der e puder. A dar a cara pra bater pelo que desejamos.
Passamos a ter mais facilidade em falar sobre coisas que realmente importam a pessoas que realmente importam, mesmo que elas tenham dificuldade em acreditar. Aprendemos a deixar o orgulho de lado, porque já percebemos que ele nos faz perder muito mais do que ganhar. E perdas são sempre doloridas.
Aprendemos que cada um é de um jeito e que temos que aceitar isso se não quisermos perder pessoas especiais.
Passamos a aceitar que pessoas importantes também vão embora e saem das nossas vidas com a mesma facilidade que entraram. 
Passamos a entender que tudo na vida tem começo, mas que também tem fim e esse é o ciclo natural das coisas. 
Aprendemos que o tempo é sábio. Nós é que somos apressados. 
Passamos a aceitar que memórias fazem parte da vida. Saudades também. E que conviver com elas não é tão ruim assim. Elas nos mostram o que realmente vale a pena.
Aprendemos a viver um dia de cada vez, porque o ontem já foi há muito tempo e amanhã ainda está longe demais. Aprendemos a reconhecer os verdadeiros amigos e dar valor a eles. Porque todas as riquezas do mundo não valem um bom amigo.
Aprendemos que a distância não é nada quando a pessoa mora dentro da gente. O estar junto não é físico, é de alma. 
Passamos a aceitar a mão do destino, que as vezes vira nossa vida de cabeça pra baixo. Aliás, ele as vezes tem uma mão pesada pra caramba.
Passamos a ter cada dia mais certeza de como mundo é pequeno e como é linda a sua capacidade de dar voltas. 
Aprendemos que existe uma enorme distância entre amor e carência. E assim, tudo que está confuso vai ficando cada vez mais claro. 
Aprendemos a parar de sabotar a nos mesmos. 
Passamos a nos permitir cair as vezes, pra aprender a levantar em todas elas. Sem cansar. 
Passamos a aceitar que somos de carne e osso, mesmo que muitas vezes a vida nos exija que sejamos de ferro. 
Passamos a dar o braço a torcer as vezes, ou sempre. Porque mais vale a presença de alguém importante do que estar certo. É que às vezes as pessoas que vão nem sempre voltam. 
Passamos a enxergar a dimensão de nossas escolhas e suas consequências e entender que voltar atrás não é falta de personalidade. É necessário.
Aprendemos que nenhum amor vale tanto quanto o nosso próprio e que ninguém vale tanto a pena a ponto de nos fazer esquecer de nos mesmos.
Aprendemos a não permitir que o mal do outro se instale em nós. Afinal, tudo aquilo que não aceitamos, volta pra quem nos ofereceu. 
Aprendemos a difícil arte de perdoar e vamos aprendendo aos poucos a de esquecer. Vale a pena. 
A vida nos ensina, sempre. Todos os dias, o tempo todo. Só não aprende quem não quer. É que o aprendizado requer mudanças e sacrifícios e nem todo mundo está disposto a pagar o preço. Mas não tenhamos medo, porque não mudar será muito mais dolorido. 

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Brilho eterno de uma mente sem lembranças



Hoje assisti pela milésima vez (no mínimo) o meu filme preferido, que dá nome ao texto. 
É, de longe, o filme mais lindo que já vi.  
Joel e Clementine se conhecem e se apaixonam. Eles não tem nada a ver um com o outro, não se encaixam em nada, mas se amam. Muito. Ele é tímido, contido, racional, pés no chão, metódico, sem vícios. Ela é falante, independente, sonhadora e meio irresponsável as vezes. Por ser tão difícil a convivência eles terminam e ela então resolve apagar Joel de sua memória através de um tratamento experimental. Joel descobre e sentindo-se rejeitado resolve fazer o mesmo.
Ocorre que durante o procedimento e no meio de tantas lembranças que ele precisa rever pra que isso aconteça, ele desiste de esquece-la, e assim ele trava uma batalha contra sua memória pra que as lembranças permaneçam. Enquanto revive todos os momentos em sua memória, ele tenta de todas as formas burlar o procedimento, colocando ela inclusive em momentos de sua vida em que ela não participou. Porém, já era tarde demais. 
O filme é extremamente complexo, mas infinitamente lindo. Em determinado momento, eles conversando dentro das lembranças de Joel, ela olha pra ele e diz: esta acabando Joel, o que fazemos? Então ele responde: aproveitamos. Eu queria ter ficado, eu teria ficado, mas você ja tinha ido. 
As memórias então se vão, eles se esquecem de tudo que viveram e se tornam estranhos. Mas como a mão do destino não falha nunca, eles se REencontram, e se REconhecem, se REescolhem. 
E é assim que esse filme me leva sempre a pensar... Como tudo seria  diferente se soubéssemos quando seria o ultimo beijo, o ultimo abraço, o ultimo sorriso, o último momento juntos. E, por não saber nunca, deixamos pra lá. Deixamos pra daqui a pouco, pra amanhã, pra daqui uns dias, pro mês que vem. Acontece é que não sabemos de daqui a pouco e muito menos do amanhã e por isso desperdiçamos tantas coisas e tantos momentos. Deixamos passar pessoas e momentos únicos de nossa vida, que se soubéssemos ser a ultima vez, com certeza não passariam. Nada seria mais importante do que aproveitar aquela pessoa até o fim e, quem sabe, fazê-la ficar. 
Será que se pudéssemos apagar as lembranças de dias difíceis, de defeitos que incomodam, de ofensas fúteis, de coisas que doeram, de todos os erros que não aceitamos passar por cima, será que nossas escolhas então, seriam diferentes? Será que nos REencontraríamos e nos REescolheríamos de novo, e de novo, visto que a vida é um ciclo? 
O fato é que tudo seria mais fácil se enxergássemos o lado bom de cada um. As qualidades acima dos defeitos. O amor acima do orgulho. A falta de alguém importante acima do comodismo de deixar assim porque não deu certo uma vez. É mais fácil se justificar, porque passar por cima é difícil demais. Tentar de novo é difícil demais. Abrir mão do orgulho pelo que se quer e por quem se quer é difícil demais. Fingir que nada aconteceu e voltar atras é difícil demais. Mas é muito, mas muito mais difícil conviver com lembranças quando ainda existe saudade. É que lembranças ruins nos afastam de pessoas importantes que poderiam estar em nossa vida e lembranças boas nos aproximam de pessoas que não podem ou não querem mais estar. Mas não tem como apagá-las, elas são parte de nós. 
Nos resta saber selecionar aquilo que de fato merece um espaço em nossa memória. Deixemos as lembranças doloridas irem embora, e então, só as boas lembranças ficarão pra sempre. E assim, quem sabe, muitas histórias não serão mais perdidas, mas reescritas.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Sempre será você.

A vida segue. E com ela seguimos também. Mudamos a rota, os costumes, os amigos, mudamos de casa, mudamos os lugares. Mas por mais que tudo mude e a vida siga, algumas coisas insistem em permanecer e não ir embora.
É assim quando penso em você. É assim quando me lembro da sua existência, que eu vivo tentando deixar pra lá. 
Tem certas coisas que a gente não expulsa daqui de dentro nunca. A gente só muda de lugar. Da sala principal pro quarto de despejo, lá no fundo. Colocamos lá, trancamos e jogamos a chave fora. 
Não vemos mais todo dia, não lembramos mais todos os dias, não dói mais e nem incomoda. Saiu do cômodo principal da casa. Saiu do foco. Mas ainda esta lá. La no fundo, mas está. E é quando de vez em quando você reaparece. Pra me provar que pode estar escondido agora, mas que ainda vive dentro de casa. Pra me mostrar que por mais que eu queira expulsar, algumas coisas não vão embora. Nunca. Ja fazem parte da casa, e sem elas ficaria um buraco eterno.
Então, só queria te dizer que diante disso tudo, fica uma certeza. Alias, duas. A primeira é que por mais que o tempo passe você não vai passar. Nunca. 
A segunda é que sempre será você. Não sei se aqui ou do outro lado do mundo, não sei se nessa vida ou na outra, não sei se hoje ou daqui mil anos. Mas é você, sempre foi você e sempre será. 
A cada pessoa que passa na minha vida sem deixar nada e sem levar nada de mim, eu sei que é você. A cada briga, a cada vez que nos afastamos e por cada reaproximação, eu sei que é você. A cada vez que ouço seu nome e perco a graça, o rumo, o prumo, eu sei que é você. A cada vez que lembro você e me dá uma coisa boa de saber que existiu por aqui, eu sei que é você. A cada vez que ouço sua risada dentro da minha memória e lembro dos seus olhos sorrindo, eu sei que é você. A cada medo de cruzar com você e não saber como reagir, eu sei que é você. A cada atitude tomada por impulso, a cada insistência, a cada palavra não dita, a cada silêncio que grita, eu sei que é você. 
E é por essas e outras grandes coisas, que não caberiam aqui, que é você que eu vejo aqui quando imagino minha vida daqui um tempo. Não sei se longo ou curto, mas um tempo. O tempo suficiente eu diria.
Por hora te permito viver assim, longe. Onde te coloquei, no quarto de despejos. E me permito viver assim, na minha sala principal.


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Amor não dói

Sempre me disseram que o amor era um sentimento doído e, durante longos anos acreditei firmemente nisso. Mas o tempo passa, a vida vai ganhando forma e os sentimentos amadurecem.... Assim como nós mesmos. E foi então que pude entender que o amor não dói. 
A saudade dói, a ausência dói, a indiferença dói, o orgulho dói.... Mas o amor não. É preciso muito cuidado pra não confundir sentimentos. Muito cuidado pra não pensar que ama simplesmente porque sente falta, ou porque sempre lembra e da saudades. Carência é uma coisa. Amor e outra coisa, bem diferente.
Saudade não é amor. É só saudade. 
Indiferença e orgulho não são amor, mas a falta dele.
O amor não dói. O amor é aquilo que fica sempre. Aquilo que fica depois da decepção, depois da raiva, depois do orgulho. É o que fica depois da porta fechada, em que você bate insistentemente mas ninguém abre, mesmo estando do outro lado. 
É o que fica mesmo depois da ausência, mesmo depois do silêncio. Amor é quando você finge que esqueceu, mas sabe que no fundo está tudo ali, na mesma intensidade e do mesmo tamanho. 
Amor é renúncia. É saber a hora de parar. Amor é saber dizer não, mesmo depois de tantos sim. 
Amor é abrir mão pro outro ser feliz. 
Amor é mãos dadas, é o abraço de reencontro, é o abrir de portas depois da saudade. Amor é beijo na testa, é cumplicidade, é dedicação.
Vejo amor em tanta coisa. Vejo amor em cada amigo meu.
Vejo amor quando eles não querem fazer algo, mas o fazem porque eu ficaria feliz. Vejo amor quando minha vó relembra meu avô com saudade quando fala do companheirismo vivido e das dificuldades superadas.
Vejo amor quando minha mãe discorda de mim, mas respeita minha opinião e me apoia mesmo assim. 
Vejo amor quando duas pessoas ficam juntas apesar de TUDO.
Vejo amor em cada pedido de desculpas. Vejo amor em cada desculpa aceita. 
Vejo amor em cada criança que cruzo na rua. 
Vejo amor em cada renúncia. Vejo amor em cada vez que deixamos pra lá pra não magoar alguém. 
Vejo amor em cada silencio pra não ferir alguém importante. Vejo amor em cada esforço pra não deixar alguém ir embora. 
E, vendo tudo isso, não dá pra aceitar que o amor doa. 
O amor não dói. Ele não dói nunca. 




terça-feira, 10 de novembro de 2015

Me leva pro mar

É estranho quando alguém vai embora de nossa vida. É estranho porque a pessoa vai embora, mas sempre tem algo que fica. Fica o chinelo que não nos serve, o moletom que não mais nos aquece, o perfume que a gente quer esquecer.  Fica a foto no porta retrato, fica a aliança guardada num canto do quarto, fica a ausência gritando dentro da casa que ficou vazio, fica o silencio das vozes que se calaram, fica o lado esquerdo da cama vazio, fica a saudade doendo no peito e o amor que não foi desfeito. 
E é assim que eu me sinto desde que você se foi e não quis mais voltar. Desde que você seguiu navegando e eu fiquei na areia da praia te olhando ir. Fiquei e não gritei pra que você voltasse, ou que ao menos que me levasse junto mar adentro. É que você não sabe, mas eu tive um medo danado. Medo de ir embora e me perder no mar, e depois não saber mais voltar. Medo das tempestades que poderíamos enfrentar. Fiquei. Mas você também ficou. 
Ficou nos detalhes, que, de fato, são tão difíceis de esquecer. Não se esquece facilmente alguém ainda tão presente, mesmo que distante, mesmo que ausente. Não se esquece facilmente alguém que ainda mora aqui dentro e mora com todos os seus cheiros, chinelos, moletons, retratos e saudades. 
Nos resta a difícil tarefa de desconstruir tudo isso. Difícil porque não se destrói facilmente bons momentos vividos. Tinha la os momentos dificeis, mas quem é que não tem? Tinha lá os momentos de dor, mas tinha muito amor também. 
Queria eu embarcar com você. Ir pra longe. Admirar o mar, o por do sol e as tempestades. Mas perdi você de vista. Não alcanço mais o barco. Ja é tarde agora. 
Foi então que olhando daqui da terra firme percebi que muitas vezes, a gente se perde, pelo medo do mar. Me perdi.


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

E aí tempo?

Ontem me veio a noção de como o tempo está passando rápido demais. Como coisas que parece que vivi outro dia, ja estão tão distantes. Isso me faz voltar à velha pergunta de sempre: o tempo é nosso aliado ou um grande vilão? Pra onde vão as coisas que vivemos e que são deixadas pra trás tão rapidamente? Pra onde vão as coisas que vivemos e queríamos ter vivido infinitamente? Em que lugar do espaço tudo isso vai parar?
As perguntas são inúmeras, as respostas não existem. E, se existem, fogem ao nosso entendimento. O fato é que eu só queria algumas coisas de volta. Alguns momentos de volta. Algumas pessoas de volta. Pra poder aproveitar intensamente, demoradamente, inconsequentemente. Aproveitar sabendo que é a última vez. Uma ultima chance pra dizer que errou, pra dizer que sentirá saudades, pra dizer que ama ou, simplesmente, pra dizer que sente muito. Mas que sente. Ou apenas pra contemplar tudo aquilo uma ultima vez. O ultimo olhar sincero, o ultimo abraço apertado ou a presença silenciosa, mas ali. 
O amanha é logo ali e o ontem ja está muito distante. Não dá pra voltar atrás e refazer a historia, porque de fato, o tempo não volta. Nós é que voltamos no tempo. E assim, que possamos amadurecer ao ponto de compreendermos a inutilidade do orgulho, a devastação da raiva, o peso da culpa e a traição do medo.