A noite

A noite

sexta-feira, 18 de março de 2016

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...


Ando de saco cheio das pessoas, sabe?! E quando digo cheio, é bem cheio mesmo. Principalmente as "adultas". Sempre cheias de certezas demais, razões demais, sabedoria demais. Principalmente no que diz respeito ao outro, quase nunca delas mesmas.
Pessoas experientes, dizem. 
Que bom. Agora só falta lembrar o mais importante: sua experiência não te dá o direito de achar que sabe do outro. 
O seu universo é um e o do outro não é igual ao seu. As pessoas são o que são e não o que você acha que elas sejam. 
O que você vê é somente o que a pessoa quer mostrar. Ou, quem sabe, o que ela não consegue esconder. Há muito mais ali. Ninguém é somente o que se mostra... Existem dores por trás do sorriso, existe fé por trás da descrença, existe fragilidade atras da ignorância, existe medo por trás da coragem, existem cicatrizes por trás de cada gole de bebida, existe inocência por trás da maquiagem, existe rejeição por trás da amargura, existe dor por trás da loucura. Existem tantas coisas. 
E ha quem diga: "ah não justifica, já passei por tanta coisa..." Ok. Não justifica pra você. Você é você, os outros são os outros. Você supera, outros talvez não. É simples. 
As pessoas são muito mais aquilo que escondem do que aquilo que mostram. Porque é preciso muita coragem pra escancarar suas feridas, escancarar suas dores, escancarar tudo que incomoda. Nem todos possuem essa coragem. Então, se escondem. 
E é exatamente por isso que ninguém conhece ninguém. Nunca conhecerá. Você só conhece o que a pessoa permite que você conheça. E é só. 
Não se ache tão importante a ponto de olhar pra alguém e emitir um juízo de valor que não cabe a você! O caminho do outro não é o seu caminho... 
Não é porque a pessoa tem trinta tatuagens, incontáveis piercings, cabelo azul, a cara sempre fechada, a grosseria sempre aparente, dentre outras coisas, que ela seja a pessoa que você acha que ela é. Alias, conheço muitas pessoas que não tem nada disso e nem por isso são ótimas. Alias, a maioria dos que julgam não tem moral pra isso. Mas sentam o traseiro pra abrir a boca e proclamar o que é "certo" e "errado". Bate no peito pra dizer que não faz tanta coisa, mas faz outras tantas piores. 
"Se meu filho usar brinco, sai de casa." Mas usar a filha dos outros pode. Isso é "ser homem", usar brinco é coisa de "viado". 
Se você se encaixa nessa turma, sinto dizer e decepcionar você, mas você está fazendo isso errado.  E, por mais que você ache ser, você não é melhor que ninguém. 
Não adianta ter dinheiro se você não tem valores. Não adianta não ter brinco, se te falta respeito pelo outro. Não adianta não ter tatuagem nenhuma, se você tem desonestidade de sobra. 
O importante mesmo não é a capa, mas o que está dentro. E acredite: você jamais entenderá o que existe dentro do outro. Sinto lhe dizer isso também. 
Você não sabe o que o outro passou e sentiu ou sente, pra ter feito as escolhas que fez. Você não sabe se faria da mesma forma ou pior ou melhor, sem antes passar ou ter passado pela mesma situação.
É muito fácil comprar o ingresso, sentar na plateia e emitir opinião. Difícil é continuar honrando tudo aquilo que você critica quando estiver do outro lado. 
É por essas e outras, que digo: ninguém é obrigado a entender as escolhas de ninguém, mas somos sim obrigados a respeitar as escolhas de cada um. Boas ou ruins, bonitas ou feias, estranhas ou interessantes, são suas e não minhas, ou são minhas e não suas. Que plante e que colha. Não cabe a ninguém emitir juízo de valor sobre o peso que o outro carrega nos ombros e o que deve ou não fazer com ele. 
Somos plural, mas somos muito mais singular. Portanto, quando pensar em julgar alguém, comece por você. Quase sempre funciona. 
Se conseguir, não terá mais o que dizer do outro. Caso contrário, você não terá moral mesmo. 

domingo, 6 de março de 2016

A carta que eu nunca mandei.


Tem dias que você é tão presente em mim... São dias bem difíceis, doloridos e largos. Dias como hoje. E sempre que isso acontece eu penso em te escrever. Penso em tudo que gostaria de te dizer, em tudo aquilo que ficou pra ser dito num dia que não chegou. Ou chegou e deixei passar. 
Mas não escrevo. Você não iria querer saber tudo que existe aqui. Você nunca teve vocação pra ouvir coisas que mexem e doem em você mesmo. E você, me conhecendo tão bem, sabe como respeito as escolhas alheias. 
Mas eu queria muito que você soubesse que meu amor ainda é seu. Sempre foi. 
Que meu jeito de amar é meio errado, meio torto e um tanto quanto confuso. Que meto os pés pelas mãos e faço tudo errado, mas que apesar de tudo, sempre te ofereci o que de melhor existia aqui dentro.
Queria que soubesse que sinto muito pelos meus erros. Hoje no futuro, sei onde errei, e sei também como a maturidade ou a falta dela interferiu entre nós.
Eu nunca te disse, mas ainda não me desfiz de tudo seu que ainda existe aqui... Seja lembranças ou alianças, seu sorriso ou seus chinelos, seu perfume ou moletom, e tudo mais que você deixou aqui e em mim... Tudo tão presente quanto você. 
Preciso me desfazer de tudo isso, sei bem, mas sempre que me disponho e pego cada uma dessas coisas eu volto a colocá-las no lugar de onde tirei, porque joga-las fora seria perder uma parte de você que ainda existe aqui. E não estou disposta a isso, pelo menos agora. É que nunca gostei de alguém assim. Você despertou o melhor em mim, e sem saber, me fez mais mulher que nunca. 
Queria que soubesse que sei o quanto fui covarde cada vez que nos reencontramos. Cada vez que me calei com tantas coisas que eu queria e precisava te dizer. Cada vez que te procurava e emudecia quando precisava falar e falava quando o silêncio era essencial.
Queria que soubesse que tudo que fiz quando nos deixamos, foi pra chamar sua atenção de uma vez por todas e te fazer ter medo de me perder. Mas você não teve. Ou teve e não disse nada. E eu então segui, ou pelo menos tentei. E falhei. 
Queria que soubesse como qualquer pessoa que convivi não se compara a você, e que todas as vezes que disse amar alguém era pra me fazer acreditar nesse confusão toda. Menti pra mim mesmo esse tempo todo, afinal, não se tapa o sol com peneira. Hoje, depois de muito queimar, aprendi isso. 
Como eu queria que soubesse o quanto eu desejei que ficássemos juntos e continuássemos nossa história... Porque dentro de nós ela ainda existe e é tão presente quanto as memórias. 
O grande problema é que somos iguais demais, orgulhosos demais, complicados demais. Perdemos tempo, muito tempo fazendo coisas pequenas, se tornarem enormes. Temos a mania de complicar quando podemos simplificar. 
Perdemos tempo afirmando não dar certo, mesmo sem nunca tentar. Achamos mais fácil assim... E seguimos. Cada um como pode, cada qual como consegue. Eu sigo com uma asa só, a outra ficou com você. Por isso estamos sempre perto, mesmo longe.
Seguimos sabendo que não existirá mais ninguém capaz de preencher o lugar do outro, sabendo que não seremos felizes com mais ninguém depois de ter sido tão felizes juntos, sabendo que lá na frente olharemos pra trás e sentiremos que algo ficou. Uma parte de nós ficou. Sempre ficará. 
Então volta. Puxa a cadeira e senta sem pressa. Abre o coração, acalma a mente e vamos conversar. 
Não posso te garantir que dê tudo certo porque a vida não é feita de garantias, alias, nada é garantido por aqui. O que posso te dar é a certeza do amor que existe em mim, a certeza da sua falta todos os dias, a certeza de que o pior nós já vivemos e que tentarei, enfim, ser o melhor que puder pra que a gente se ajeite. 
O teste final já foi feito, o martelo foi batido. O sentimento resistiu ao tempo, às angustias e decepções. Ameniza quando longe, mas basta o reencontro pra que tudo volte. 
Eu nunca entendi esse medo todo de nós dois, mas espero que esse tempo longe nos amadureça cada vez mais, e seja, na melhor das hipóteses, uma forma que a vida arrumou de nos mostrar o quanto nos fazemos falta. Por que foi nesse tempo que me dei conta de como amo voce. 
Espero que nossa história dure bem mais que isso, e que essa parte seja só uma tempestade que iremos lembrar e rir entre um gole e outro de cerveja juntos, enquanto nossos filhos brincam pela casa. 
Eu aceito o seu não, respeito seu direito. Se é essa a sua decisão. 
Mas me diz, se isso não é amor o que é então. Me diz. E, sendo assim, te deixo ir.  Pra sempre.