A noite

A noite

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Por favor, saia.



Tudo bem, eu te entreguei meu coração. Abri as portas dele como quem abre um castelo. Enorme, mas todo pra você. Com algumas imperfeições sim, mas sabe-se la que nem tudo é perfeito. Assim como meu coração, eu também não sou. E não adiantar se engrandecer porque você também não é, sinto muito em te contar isso. Já que ninguém nunca ousou te dizer, eu mesmo falo. Você já deve ter se acostumado com a minha sinceridade, que também é um dos meus defeitos. 
Cara você tem defeitos pra caramba.... E ainda assim eu te quis. É meio estranho acreditar nisso. As pessoas me perguntam sempre: menina o que você viu nele? Porque você insistiu tanto? Qual a vantagem disso tudo? Ta doida em querer reviver tudo aquilo é? E sabe, hoje não sei responder a essas perguntas mais. Nenhuma resposta me vem à mente agora. As vezes eu acho que insisti por puro masoquismo mesmo. 
Se me fosse feita essas perguntas há uns meses atras, eu teria muitas justificativas. E eu acreditava fielmente em todas elas.
Eu poderia dizer que eu precisava tentar mais uma vez por achar q nossa historia não tinha terminado. Eu poderia dizer que estava ali ainda por acreditar que existia sentimento, de ambos os lados. Eu poderia dizer que eu precisava tentar mais uma vez. 
Eu poderia dizer que eu precisava ir até o fim, mesmo sabendo que o fim já tinha sido há muito tempo. Eu poderia dizer que mesmo com todos os defeitos, era você meu ultimo pensamento antes de dormir e o primeiro ao acordar. Eu poderia dizer que é porque eu tentei desviar você do meu caminho, mas o meu caminho não desviava nunca de você. 
Eu poderia dizer que é porque quando a gente ama, os defeitos a gente geralmente esquece e as coisas boas vivem perseguindo a gente feito assombração. Eu poderia dizer que é por causa dos seus olhos, do brilho deles que eu nunca vi em mais ninguém (acho que isso as pessoas que te conhecem entenderiam). 
Eu poderia dizer que você tem um coração enorme capaz de amar muito, mas acho que isso elas não acreditariam, então deixa pra lá. Eu poderia dizer que apesar dos pesares, a gente era feliz e isso bastava pra se tentar de novo. 
Eu poderia dizer que eu iria em frente enquanto meu coração pedisse pra eu ir, independente de motivos. O coração nunca tem motivos, ele simplesmente quer e ponto. Eu poderia dizer que ainda via você como o pai dos meus filhos, mesmo tendo convivido com outras pessoas tão diferentes de você. Eu poderia dizer que é porque todas as outras pessoas passaram, mas você permaneceu. 
Eu poderia dizer que era pelo que eu senti quando abracei você de novo depois de tanto tempo. Era como voltar pra casa depois de muito tempo perdida por aí.
Eu poderia dizer que era pelo que eu sei que você sentiu nos dias em que estivemos juntos novamente. Eu poderia dizer que é porque há coisas que o tempo não apaga e a distância não diminui, só aumenta. 
Eu poderia dizer que algo me mostrava que era você e que a gente precisava desse tempo longe pra ter certeza disso. 
Eu poderia dizer que era porque nossa loucura combinava ou porque apesar dos pesares não desistíamos nunca da gente. Eu poderia dizer que era porque eu acordei de repente e vi que não queria perder você, mesmo ja tendo perdido. Eu poderia dizer que eu simplesmente não poderia deixar você ir, mesmo ja tendo ido. Eu poderia dizer que ainda me culpava por ter seguido em frente quando deveria ter voltado, mais uma vez. Insistido mais uma vez. 
Eu poderia dizer que é porque, de alguma forma, eu sabia que valeria a pena, se não fosse pela nossa historia, que fosse pelo aprendizado. Que fosse pra seguir em frente de cabeça leve e coração tranquilo. Como eu estou agora.
Eu poderia, enfim, ter dito tanta coisa. Mas as pessoas não entenderiam, elas nunca entendem. Então eu não dizia nada nunca. Os motivos eram meus e isso bastava.
É que elas não entendem essa sua forma estranha de lidar com sentimentos. Elas insistem em afirmar que é covardia, mas eu bato o pé dizendo que não. 
É que elas não sabem que você faz isso pra se proteger. Elas não sabem que você não se joga com medo do tombo. Sei como é. É estranho, mas eu sei. 
Você é só um menino que cresceu de tamanho. Um menino que mostra uma mão, mas esconde a outra. Aquela que guarda as coisas mais bonitas, as que você mais gosta. Vai que você mostra e alguém leva de você, não é? E aí, é como tirar doce de criança. É choro na certa. Então você esconde. Guarda como um tesouro, como se ninguém o merecesse. 
Mas por razões suas, eu mereci um dia. Você me apresentou todas essas coisas lindas escondidas aí. Mas sem querer, eu tentei levar tudo embora. Por muito tempo pensei ter levado e ter deixado você órfão dessas coisas lindas. Mas hoje eu sei que não levei. E isso me deixa feliz. Elas estão aí ainda. Só estão escondidas, mas não cabe a mim procurá-las mais. 
E, depois de todo esse tempo e apesar de tudo, da mesma forma que eu abri meu coração pra você entrar, ele está aberto pra você sair. Você não é bem vindo aqui. Não mais. 
Então, por favor, dê licença. Não insista em morar em um lugar onde você não é mais o convidado de honra. Aqui só tem lugar pra quem não tem medo de ficar, não é pra qualquer um. Aqui só cabe quem se joga de cabeça, sem medo do tombo. Só cabe quem é bem resolvido, que chega com as malas prontas e a escova de dentes na mão. Que sabe deixar pra lá o que precisar ser deixado e tenha coragem suficiente pra assumir o que quer. Que seja mais certezas do que dúvidas e que saiba dar valor ao que realmente importa.
Então, por favor, saia. E quando sair não se esqueça de fechar a porta, apagar a luz e jogar a chave fora.

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