A noite

A noite

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Brilho eterno de uma mente sem lembranças



Hoje assisti pela milésima vez (no mínimo) o meu filme preferido, que dá nome ao texto. 
É, de longe, o filme mais lindo que já vi.  
Joel e Clementine se conhecem e se apaixonam. Eles não tem nada a ver um com o outro, não se encaixam em nada, mas se amam. Muito. Ele é tímido, contido, racional, pés no chão, metódico, sem vícios. Ela é falante, independente, sonhadora e meio irresponsável as vezes. Por ser tão difícil a convivência eles terminam e ela então resolve apagar Joel de sua memória através de um tratamento experimental. Joel descobre e sentindo-se rejeitado resolve fazer o mesmo.
Ocorre que durante o procedimento e no meio de tantas lembranças que ele precisa rever pra que isso aconteça, ele desiste de esquece-la, e assim ele trava uma batalha contra sua memória pra que as lembranças permaneçam. Enquanto revive todos os momentos em sua memória, ele tenta de todas as formas burlar o procedimento, colocando ela inclusive em momentos de sua vida em que ela não participou. Porém, já era tarde demais. 
O filme é extremamente complexo, mas infinitamente lindo. Em determinado momento, eles conversando dentro das lembranças de Joel, ela olha pra ele e diz: esta acabando Joel, o que fazemos? Então ele responde: aproveitamos. Eu queria ter ficado, eu teria ficado, mas você ja tinha ido. 
As memórias então se vão, eles se esquecem de tudo que viveram e se tornam estranhos. Mas como a mão do destino não falha nunca, eles se REencontram, e se REconhecem, se REescolhem. 
E é assim que esse filme me leva sempre a pensar... Como tudo seria  diferente se soubéssemos quando seria o ultimo beijo, o ultimo abraço, o ultimo sorriso, o último momento juntos. E, por não saber nunca, deixamos pra lá. Deixamos pra daqui a pouco, pra amanhã, pra daqui uns dias, pro mês que vem. Acontece é que não sabemos de daqui a pouco e muito menos do amanhã e por isso desperdiçamos tantas coisas e tantos momentos. Deixamos passar pessoas e momentos únicos de nossa vida, que se soubéssemos ser a ultima vez, com certeza não passariam. Nada seria mais importante do que aproveitar aquela pessoa até o fim e, quem sabe, fazê-la ficar. 
Será que se pudéssemos apagar as lembranças de dias difíceis, de defeitos que incomodam, de ofensas fúteis, de coisas que doeram, de todos os erros que não aceitamos passar por cima, será que nossas escolhas então, seriam diferentes? Será que nos REencontraríamos e nos REescolheríamos de novo, e de novo, visto que a vida é um ciclo? 
O fato é que tudo seria mais fácil se enxergássemos o lado bom de cada um. As qualidades acima dos defeitos. O amor acima do orgulho. A falta de alguém importante acima do comodismo de deixar assim porque não deu certo uma vez. É mais fácil se justificar, porque passar por cima é difícil demais. Tentar de novo é difícil demais. Abrir mão do orgulho pelo que se quer e por quem se quer é difícil demais. Fingir que nada aconteceu e voltar atras é difícil demais. Mas é muito, mas muito mais difícil conviver com lembranças quando ainda existe saudade. É que lembranças ruins nos afastam de pessoas importantes que poderiam estar em nossa vida e lembranças boas nos aproximam de pessoas que não podem ou não querem mais estar. Mas não tem como apagá-las, elas são parte de nós. 
Nos resta saber selecionar aquilo que de fato merece um espaço em nossa memória. Deixemos as lembranças doloridas irem embora, e então, só as boas lembranças ficarão pra sempre. E assim, quem sabe, muitas histórias não serão mais perdidas, mas reescritas.

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